2.11.05
Achei que estava deixando o menino entediado.
Disse que precisava dar uma passada no banheiro, me mostre onde fica, boy.
Segunda porta à esquerda.
Fiquei alguns minutos sentada no vaso, hipnotizada pelos sapatos vermelhos.
Talvez muito arrumados pra ocasião.
É pena, eu sei, esperava uma outra atmosfera.
Nada de salão branco com grandes bolas decorativas.
Nada de calça tweed, nem Martini. Je suis desolée.
Quando saí do corredor, o menino me esperava de pé em seu suéter.
As mãos nos bolsos da calça.
O nervosismo estampado.
Então, vamos?
Ele falou sem jeito, feito os meninos de 17 anos que colecionam peixes em aquário. Me veio um branco total.
Não me lembrava mais o motivo daquela visita, o quê diabos eu estava fazendo na casa do menino, de onde nos conhecíamos, será que ele esperava que eu lecionasse francês e literatura?
Recolhi a minha bolsa de paetês no sofá e lhe dei um beijo na bochecha.
Preciso ir.
Me leve até a porta, boy.
Cara de pastel, mané, bocó, gente que não come abobrinha.
Vamos, boy, não seja mal educado e me leve até a porta.
Sorri doce e cinicamente.
Tchauzinho pelo vidro do elevador.
Não suporto essa acne dos rapazes.
Adeus, boy.
[Alice Sant'Anna]
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